As estimativas do SEEG 10, abrangem as emissões de GEE no Brasil e em cada um dos estados e distrito federal no período de 1970 a 2021 para todo os setores, com exceção de mudança de uso da terra, que abrange o período de 1990 a 2021.
Também são apresentadas a partir da Coleção 8 as estimativas de emissões municipais cobrindo o período de 2000 a 2018.
A base metodológica das estimativas do SEEG é o 4o Inventário Brasileiro de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases do Efeito Estufa, publicado pelo MCTI em 2020.
Sem os inventários oficiais de emissões e respectivos relatórios de referência não seria possível desenvolver esta iniciativa do Observatório do Clima, pois a grande maioria dos fatores de emissão específicos foram calculados no processo de elaboração do inventário por equipes de dezenas de instituições, e envolvendo centenas de pesquisadores e especialistas.
A metodologia do SEEG foi publicada na revista científica Nature em maio de 2018.
Para cada setor foi montada uma rotina de cálculo que reproduz o trabalho do inventário para cada um dos anos reportados (ex. 1990, 1994, 2000, 2005, 2010, 2015). Em seguida, buscam-se os dados de atividade que permitam estimar a evolução das emissões considerando-se os fatores de emissão do inventário. São consultadas dezenas de instituições públicas e privadas para se obter acesso a dados de atividades.
Para assegurar a possibilidade de repetição das estimativas calculadas por qualquer interessado, são utilizados dados obtidos de forma pública e gratuita, incluindo-se dados disponíveis através da internet ou em bibliotecas de acesso público.
Quando os dados de atividade não estão disponíveis ou estão incompletos, são utilizadas estratégias diversas para obter as estimativas, incluindo-se a busca de valores de referência, linhas de tendência, correlação com dados de outras atividades, dentre outros.
1º. Revisão da Metodologia IPCC e do Inventário, incluindo a leitura de todos os relatórios de referência preparados para o 4o inventário.
2º. Recomposição das tabelas de cálculo do Inventário para compreender e testar a forma de aplicação dos fatores de emissão. No processo, foram refeitas as planilhas e os sistemas de cálculo, usando-se os dados-base do Inventário, com o objetivo de replicar os dados de acordo com a descrição metodológica dos relatórios de referência.
3º. Levantamento de dados de atividade e de componentes de atualização para os fatores de emissão. O objetivo é de levantar as informações atualizadas, sempre que possível, junto às mesmas fontes do Inventário, desde que os dados estejam disponíveis gratuitamente.
4º. Identificação de lacunas de dados e definição de fórmulas auxiliares de cálculo para preenchimento das lacunas. Onde faltam os dados necessários para utilizar o fator de emissão no formato original, são utilizados fatores de emissão auxiliares, geralmente por meio de análise de correlação de emissões e nível de atividade, tendo como base os dados do Inventário. Nesta fase se define também os critérios de alocação das emissões para os estados.
5º. Apresentação e validação da metodologia e dos dados, em seminários técnicos, realizados com os especialistas e os técnicos das instituições-membros do Observatório do Clima, com objetivo de revisar as diferentes etapas do trabalho.
6º. Revisão e análise da qualidade dos dados. Ao final, todos os dados são avaliados segundo a qualidade dos fatores de emissão e dos dados de atividade utilizados. São identificados pontos que devem se melhorados em futuros levantamentos, incluindo-se uma revisão de métodos e dados por especialistas de diferentes setores.
Desde a versão 2.0, lançada em 2014, o SEEG inclui a alocação de estimativas de emissões por estados e Distrito Federal. A proporção de emissões que puderam ser alocadas vem crescendo a cada versão. No SEEG 10, para o ano de 2021 foi possível a alocação de 96,5% das emissões brasileiras por estados e Distrito Federal. Apenas 3,5% das emissões não foram alocados.
Para a alocação das emissões por unidades da Federação, são utilizados como referência as atividades geradoras de emissões (ex. ocorrência de desmatamento, consumo de combustíveis para transporte, produção industrial etc.).
As Notas metodológicas detalham como foi gerada a alocação em cada item de emissão estimado.
As estimativas incluem as emissões de todos os gases previstos nos Inventários incluindo o dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), que respondem por mais de 99% das emissões em carbono equivalente (CO2e) e outros como HFCs.
Métrica de Carbono Equivalente (GWP e GTP)
Existem duas abordagens principais para determinação do carbono equivalente: o GWP (Global Warming Potential) e o GTP (Global Temperature Change Potential). O primeiro considera a influência dos gases na alteração do balanço energético da Terra e, o segundo, a influência no aumento de temperatura. Ambos são medidos para um prazo de 100 anos, sendo mais comumente utilizado o GWP.
Na base de dados disponível no portal do SEEG do OC podem ser encontrados todos os dados também em CO2e GTP tanto pela métrica do quinto relatório do IPCC (AR5) como do segundo, quarto e sextoprelatórios do IPCC (AR2, AR4 e AR6).
A possibilidade de obter os dados nestas diferentes métrica é importante para poder fazer analises e comparações com o 3o Inventário (usa IPCC AR2), INDC brasileira (usa IPCC AR5), inventários de países desenvolvidos (usa IPCC AR4).
Tabela: Equivalência em carbono GWP e GTP (IPCC AR2)
Tabela: Equivalência em carbono GWP e GTP (IPCC AR5)
As diretrizes do IPCC para inventários nacionais preveem a contabilização, para fins de inventário, das emissões e remoções antrópicas de gases de efeito estufa. No inventário brasileiro, além de considerar restauração de florestas, regeneração de pastos e outros como sumidouros de carbono, foram considerados como remoção antrópica os aumentos de estoques de carbono em florestas naturais quando localizadas em unidades de conservação ou terras indígenas.
Na realidade, florestas não protegidas podem capturar CO2, se estiverem em processo de renovação natural, assim como florestas dentro de áreas protegidas podem emitir CO2, se estiverem em processo de degradação. Pelo enorme volume que pode representar – são centenas de milhões de toneladas de CO2 – esta definição pode gera uma distorção nos dados de emissões.
A partir de uma abordagem conservadora, a opção do OC foi priorizar a divulgação dos dados SEEG com emissões brutas. Na consulta da base de dados na internet estão disponíveis também as estimativas de remoção segundo o critério utilizado no 3º inventário brasileiro de emissões. Com ele é possível estimar as emissões líquidas de GEE no Brasil.
Nas estimativas do SEEG também não foi incorporado o desconto pelos certificados de redução de emissões oriundos de projetos de Mecanismo do Desenvolvimento Limpo (MDL). Os totais, no Brasil, no período de 2005 a 2014, somam cerca de 370 milhões de toneladas de CO2e (acumulado do período).
Também foram calculadas em separado (disponível para consulta na base de dados do site) os dados de emissões por transporte internacional marítimo e aéreo que, por regra, devem ser reportados em separado, pois referem-se a emissões com responsabilidade de mais de um país. Estes dados são tratados na base de dados como “bunker” ou emissões internacionais.
O Inventário Nacional não considera as emissões e remoções de carbono no solo por práticas agrícolas. Como estas emissões e remoções são fundamentais na conta da INDC brasileira (compromissos no Acordo de Paris) a partir do SEEG 4.0 são apresentados cálculos em separado (disponível para consulta na base de dados do site) as emissões e remoções devido a qualidade do pasto (degradado ou bem manejado), aplicação de técnicas de plantio direto (que ajudam a capturar carbono no solo), plantações florestais e integração lavoura pecuária. Na base de dados os dados estão identificados como Emissões NCI e Remoções NCI (Não Contemplados no Inventário).
ABORDAGEM DE MATRIZ DE TRANSIÇÃO PARA MUDANÇA DE USO DA TERRA
Até o SEEG 7.0 as estimativas de emissões e remoções por mudanças de uso da terra utilizam dados de desmatamento como proxy para as emissões devido a ausência de dados anuais e atualizados de mudança de uso da terra no Brasil.
O projeto MapBiomas, outra iniciativa do Observatório do Clima, publicou em 2018 mapas anuais de cobertura e uso da terra do Brasil de 1985 a 2017. Com base neles a equipe do SEEG testou calcular as estimativas de emissões e remoções de GEE com base nas matrizes de transição derivadas dos mapas do MapBiomas e os fatores de emissão do 3º Inventário.
A partir do SEEG 8.0 foi adotado o método da matriz de transição com dados do MapBiomas como método padrão das estimativas de emissões. Os dados com o método do desmatamento como proxy continuam sendo utilizados para os últimos anos da série. No caso de municípios utiliza-se apenas o método padrão.
As emissões totais de gases do efeito estufa são computadas neste estudo nos cinco setores definidos pelas diretrizes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) para inventários nacionais.
Com o objetivo de obter um retrato mais fiel e completo da representatividade de determinados setores da economia foi realizado um piloto de organização das informações das emissões para diferentes setores/atividades econômicas.